O convívio entre avós e netos deve ser sempre estimulado pela família, e não se resume a mera conduta de educação e tradição. Os benefícios por ele trazidos são mútuos e diversos, como a fortificação dos laços familiares, a renovação de ideias dentro de um mesmo núcleo familiar e formação da identidade da criança. É uma simbiose orgânica e engrandecedora para todos os envolvidos.
“Os idosos ocupam um lugar de destaque no núcleo familiar: o da referência. Neste convívio, ser avô/avó não se resume a cozinhar guloseimas e a mimar o rebento.
Longe está o tempo em que os vovôs e as vovós sempre usavam bengala, e liam livros em suas cadeiras de balanço. Atualmente, eles não se resumem a essas tarefas. Os avós de hoje são pessoas ativas, esportistas e atualizadas”, comenta Fabíola Bloch, psicóloga do Lar Bem Estar (RJ). E complementa: “o vínculo afetivo com seus netos alimenta e fortalece sua vitalidade. As trocas realizadas são enriquecedoras e atualizam os avós, tanto emocional como socialmente, já que experienciam uma renovação de afetos ao desfrutar da companhia dos mais jovens, que oferecem carinho embrulhado em novidades. Já para os netos, esta convivência os ajuda a entender e a interpretar a história da família, fornece uma compreensão maior de continuidade e gera um sentimento de segurança de estabilidade emocional”.
As décadas que separam as gerações são diminuídas e ressignificadas pelas trocas entre avós e netos. Os encontros proporcionam aos idosos oportunidade de exercitarem sua memória biográfica ao recontar suas histórias de aprendizado ao conversar com outra geração e de exercer seu papel identitário ao interagir com seus netos. Os netos que interagem com seus avós oferecem a eles maior possibilidade de exercitar suas habilidades de adaptação, pensamento e linguagem.
A importância dessa relação, tanto para o desenvolvimento das crianças quanto para o bem-estar dos idosos, ficou ainda mais evidente durante a pandemia. Com o isolamento social imposto para muitas famílias, especialmente antes da vacinação dos idosos, boa parte deste convívio foi reduzido, quando não suspendido totalmente de forma presencial. “Nesse momento, o carinho e amor pelos avós, com o toque, o abraço, a brincadeira e os aprendizados, precisaram ser adaptados e substituídos por chamadas de vídeo. E mesmo em tempos tão difíceis, avós aprenderam a “fazer um zoom” ou “mandar um zap” especificamente para matar as saudades dos netos, mostrando que não há barreiras para o conhecimento quando se trata de estar com quem é importante”, pontua Fabíola. “São muitas as histórias de avós que aprenderam com seus netos os meandros das redes sociais, que são por eles usados como instrumento de comunicação e de aproximação da família e dos amigos”, completa.
O relacionamento avó-neto é e sempre será único e valioso, uma troca mútua de respeito, sinceridade e delicadeza. Para as crianças, adolescentes e adultos é um privilégio poder conviver com seus avós. Para os avós, esta preciosa convivência é uma bênção.
Em tempo: filmes, novelas e séries, na maioria das vezes, tentam retratar de forma fidedigna a realidade. E não são poucos os exemplos da ficção que mostram a relação entre avós e netos. O clássico infantil de Monteiro Lobato “Sítio do Pica-pau Amarelo”, com Dona Benta, Narizinho e Pedrinho; filmes como “Viva – A Vida é Uma Festa” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”; e até novelas, como a reprise atual da Rede Globo “A Vida da Gente”, que traz a relação de netas e avó durante a infância, adolescência e vida adulta – se estendendo até com a bisneta –, são exemplos que ilustram de maneira sensível e singular a dinâmica entre avós e netos, cada um do seu jeito, de acordo com os perfis e idades dos avós, afinal a relação vai muito além dos bolinhos de chuva compartilhados com uma boneca de pano.